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“Elevar ação de graças ao benévolo Criador”: Dia de Oração pela criação



Esta é a terceira vez que a Igreja Católica participa do Dia Mundial de Oração pelo cuidado da Criação, após a data ser instituída pelo papa Francisco, em 2015. Nesta edição, haverá o “Tempo da Criação”, que se inicia no dia 1º de setembro, que marca a data propriamente dita, até o dia 4 de outubro, quando a Igreja celebra São Francisco de Assis, autor do Cântico das Criaturas e inspiração para o pontificado de Mário Jorge Bergoglio.

Assim como nas edições anteriores, o papa Francisco divulgou uma mensagem. Neste ano, em conjunto com o patriarca Bartolomeu, o pontífice deseja elevar uma ação de graças “ao benévolo Criador pelo magnífico dom da criação e comprometer-nos a cuidar dele e preservá-lo para o bem das gerações futuras” (leia abaixo).


Líderes cristãos e ambientais de todo o mundo estarão à frente de um serviço de oração, reflexão e música para celebrar o Dia da Criação e o início da Temporada de Criação, de acordo com o Movimento Católico Global pelo Clima.

Com o apoio da ACT Alliance, da Rede Mundial de Oração do papa, do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e da Rede Ambiental de Comunhão Anglicana, serão promovidas ações simbólicas em frente a minas de carvão, poços de fracking e outros locais de destruição ecológica. O envolvimento do papa com a questão ambiental está expresso nas reflexões e propostas apresentadas na encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da casa comum.

Nas celebrações deste ano, de acordo com os organizadores, as comunidades cristãs estarão engajadas em ações simbólicas em áreas de mineração de carvão, fracking e outros locais de destruição ecológica. No dia 24 de setembro, uma ação simbólica ocorrerá em Taize, França, na Conferência Europeia da Comissão de Justiça e Paz, intitulada “Comunhão para responder ao grito da terra e ao grito dos pobres”.

Várias conferências episcopais, incluindo o Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE), a Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia (COMECE) e a Conferência das Igrejas Europeias (CEC) serão convidadas.

Ações no Brasil No Brasil, serão promovidas algumas atividades em âmbito local, conforme incentivado pelos organizadores, que disponibilizaram um mapa com as ações em todo o mundo.

A Pastoral da Ecologia de Santos (SP) estará reunida no Santuário de Santo Antônio do Valongo. Outro evento do tipo é preparado em Anápolis (GO) para o dia 7 de setembro, por iniciativa do Secretariado de Justiça, Paz e Integridade da Criação dos Franciscanos.

Também acontecerão eventos ecumênicos de oração pela criação: em São José dos Campos (SP), será na praça monsenhor Ascânio Brandão, com envolvimento das Igrejas Católica Apostólica Romana, Ortodoxa Russa – Patriarcado de Moscou e a Evangélica de Confissão Luterana do Brasil. A promoção é da Comissão Socioambiental da diocese de São José dos Campos.

Outro evento ecumênico será realizado em Lagoa Vermelha (RS) pela Escola Estadual Professora Delfina Loureiro, no dia 25 de setembro, com o tema “Sustentabilidade e cuidado da Criação”.

Em Bom Retiro do Sul (RS), será realizado o evento inter-religioso de oração pela criação, com organização do grupo Juventudes, Direitos e Fé por uma mobilização inter-religiosa. A ação de 15 a 17 de setembro envolverá católicos, umbandistas, espíritas, anglicanos, luteranos e hinduístas.

“É possível criar alternativas que possibilitem um mundo habitável diante da escassez de recursos. Além da urgente discussão sobre a realidade ambiental, as juventudes brasileiras enfrentam situações de extrema vulnerabilidade”, considera o grupo.

A comunidade Imaculada Conceição, da paróquia Senhor Ressuscitado, em Pelotas (RS), celebrará a missa do dia 1º outubro com a intenção da encíclica Laudato Si’.

No site da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) está disponível uma oração adaptada pela assessora da área de Missões da entidade, irmã Josciêda Menezes. Também foram recordadas as duas mensagens do papa Francisco preparadas para a ocasião.

Confira a mensagem do papa Francisco:

MENSAGEM CONJUNTA DE PAPA FRANCISCO E DO PATRIARCA ECUMÊNICO BARTOLOMEU NO DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELA CRIAÇÃO

A narração da criação oferece-nos uma visão panorâmica do mundo. A Sagrada Escritura revela que, «no princípio», Deus designou a humanidade como cooperadora na guarda e proteção do ambiente natural. Ao início, como lemos no Génesis (2, 5), «ainda não havia arbusto algum pelos campos, nem sequer uma planta germinara ainda, porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e não havia homem para a cultivar». A terra foi-nos confiada como dom sublime e como herança, cuja responsabilidade todos compartilhamos até que, «no fim», todas as coisas no céu e na terra sejam restauradas em Cristo (cf. Ef 1, 10). A dignidade e a prosperidade humanas estão profundamente interligadas com a solicitude por toda a criação.

«No período intermédio», porém, a história do mundo apresenta uma situação muito diferente. Revela-nos um cenário moralmente decadente, onde as nossas atitudes e comportamentos para com a criação ofuscam a vocação de ser cooperadores de Deus. A nossa tendência a romper os delicados e equilibrados ecossistemas do mundo, o desejo insaciável de manipular e controlar os limitados recursos do planeta, a avidez de retirar do mercado lucros ilimitados: tudo isto nos alienou do desígnio original da criação. Deixamos de respeitar a natureza como um dom compartilhado, considerando-a, ao invés, como posse privada. O nosso relacionamento com a natureza já não é para a sustentar, mas para a subjugar a fim de alimentar as nossas estruturas.

As consequências desta visão alternativa do mundo são trágicas e duradouras. O ambiente humano e o ambiente natural estão a deteriorar-se conjuntamente, e esta deterioração do planeta pesa sobre as pessoas mais vulneráveis. O impacto das mudanças climáticas repercute-se, antes de mais nada, sobre aqueles que vivem pobremente em cada ângulo do globo. O dever que temos de usar responsavelmente dos bens da terra implica o reconhecimento e o respeito por cada pessoa e por todas as criaturas vivas. O apelo e o desafio urgentes a cuidar da criação constituem um convite a toda a humanidade para trabalhar por um desenvolvimento sustentável e integral.

Por isso, unidos pela mesma preocupação com a criação de Deus e reconhecendo que a terra é um bem dado em comum, convidamos ardorosamente todas as pessoas de boa vontade a dedicar, no dia 1 de setembro, um tempo de oração pelo ambiente. Nesta ocasião, desejamos elevar uma ação de graças ao benévolo Criador pelo magnífico dom da criação e comprometer-nos a cuidar dele e preservá-lo para o bem das gerações futuras. Sabemos que, no fim de contas, é em vão que nos afadigamos, se o Senhor não estiver ao nosso lado (cf. Sal 126/127), se a oração não estiver no centro das nossas reflexões e celebrações. Na verdade, um dos objetivos da nossa oração é mudar o modo como percebemos o mundo, para mudar a forma como nos relacionamos com o mundo. O fim que nos propomos é ser audazes em abraçar, nos nossos estilos de vida, uma maior simplicidade e solidariedade.

A quantos ocupam uma posição de relevo em âmbito social, econômico, político e cultural, dirigimos um apelo urgente a prestar responsavelmente ouvidos ao grito da terra e a cuidar das necessidades de quem está marginalizado, mas sobretudo a responder à súplica de tanta gente e apoiar o consenso global para que seja sanada a criação ferida. Estamos convencidos de que não poderá haver uma solução genuína e duradoura para o desafio da crise ecológica e das mudanças climáticas, sem uma resposta concertada e coletiva, sem uma responsabilidade compartilhada e capaz de prestar contas do seu agir, sem dar prioridade à solidariedade e ao serviço.

Do Vaticano e do Fanar, 1 de setembro de 2017.

Papa Francisco e Patriarca Ecumênico Bartolomeu


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