Refletir sobre valores é um desafio. Os valores são quase sempre lembrados e valorizados em momentos de falta. Na ausência deles dimensiona-se a sua importância. Talvez seja mais fácil falar do que não são. Como também não existe consenso sobre o que são valores e de uma provável hierarquia. É tarefa necessária, pois sentimos a falta deles no cotidiano.
Os valores não são captados pelos sentidos como se percebe o barulho, como se vê uma árvore e a tonalidade das cores. Pertencem a um reino invisível, são a essência da alma. Eles existem, eles são. Falamos deles, os almejamos, percebemos a sua falta e desejamos que estejam presentes na família, na vizinhança, na cidade e na sociedade. Queremos nos cercar de pessoas que tenham valores, que sejam amáveis, atentas, discretas, fiéis e justas. O mesmo desejamos das instituições e organizações que pratiquem valores interna e externamente.
Podemos dizer que os valores são como pequenas sementes presentes no íntimo de cada ser humano. Cada um precisa tornar-se consciente da existência destes valores e depois cultivar, desenvolver corretamente para tomarem corpo. Assim como a planta tem um processo de crescimento, do mesmo modo desabrocham os valores. Quando vividos eles se tornam visíveis.
O educador, o mestre ajuda a despertar a consciência para os valores presentes em cada ser humano. Ajuda o outro a tomar consciência daquilo que ele é, das suas potencialidades e a descobrir a missão que tem neste mundo. A tomada de consciência é um processo de iluminação. É ver o que até então não havia sido visto, percebido, o que estava encoberto. Tomar consciência é amadurecer.
Um primeiro nível de consciência é dar-se conta da própria existência. A maravilha de ser e existir. Viver aberto para cada instante que a vida nos dá. Valorizar cada ação, por menor que seja, é um ato de vida. É existir com intensidade o tempo presente. Unir corpo, espírito e alma em cada ação.
Outro nível de consciência é a percepção de ser único no mundo, mas unido visceralmente ao mundo. Ser único e diferente sem estar só. Isto assombra e ao mesmo tempo confere uma responsabilidade.
Um terceiro nível de consciência acontece quando conseguimos ser conscientes daquilo que pensamos, fazemos e dizemos. Como também do que se deixa de fazer, de falar, das negligências e indiferenças. É a consciência da própria ação no mundo e a repercussão da nossa presença nele.
Para refletir, avaliar e analisar as consequências de nossas palavras, ações e criações é preciso um referencial, uma luz. Esta luz são os nossos valores que brilham na consciência. Ela permite enxergar os acertos, as contradições e negligências. Sem esta referência a avaliação será falsa.
Mesmo que eu seja único, devemos ter consciência de que vivemos num mundo interdependente. Tanto as ações generosas, solidárias, justas, quanto as malévolas, egoístas tem repercussões cósmicas. A harmonia do conjunto depende de cada pequena parte, da vivência de valores.