A violência crescente, sobretudo entre os jovens, conflitos familiares, corrupção em larga escala e relativismo ético são alguns dos sintomas de uma sociedade doente. Esta decadência moral faz com que nos perguntemos pelos caminhos que precisamos trilhar para educar para a verdade e a retidão de vida. Nós cremos na família, mesmo com todas as dificuldades que enfrenta, como uma oportunidade insubstituível na importante e complexa função educativa. A família não pode nunca renunciar ou terceirizar para a sociedade, para o Estado ou para a escola aquilo que lhe é próprio e que é um direito dos filhos. Sem dúvidas, a família é a primeira escola dos valores humanos, que são ensinados pelo testemunho das relações que se estabelecem ao interno do lar e pelo incessante diálogo.
Olhando para nós mesmos, podemos constatar quantos valores carregamos para o resto de nossa vida e que aprendemos no seio familiar. “A família é o âmbito da socialização primária, porque é o primeiro lugar onde se aprende a relacionar-se com o outro, a escutar, partilhar, suportar, respeitar, ajudar, conviver. [...] É lá que se rompe o primeiro círculo do egoísmo mortífero, fazendo-nos reconhecer que vivemos junto de outros, com outros, que são dignos de nossa atenção, da nossa gentileza, do nosso afeto.” (Papa Francisco, A alegria do amor, n. 276). Convivendo, aprende-se a se colocar no lugar do outro, a respeitar, a ser solidário, a ser gentil e agradecido. Educativa, também, é a experiência do sofrimento e das perdas que acontecem no seio familiar. Forja-se uma personalidade forte, capaz de perseguir objetivos e enfrentar desafios sem renunciar aos valores. Educa-se na família para o correto uso dos bens, repensando hábitos de consumo, formando para a misericórdia com os pobres e o cuidado com o meio ambiente. Aprende-se o valor do pão cotidiano, fruto do suor e de uma vida de muito trabalho. Nos pequenos gestos, adquire-se o senso da justiça e da honestidade. O testemunho dos pais ajuda a optar por uma profissão e vivê-la eticamente, como colaboradores do bem comum. Esta formação ética pede que se faça um percurso. Exige presença e testemunho dos pais, que gera nos filhos confiança e respeito. Deste modo, os pais têm autoridade para conduzir, com os filhos, processos de amadurecimento da sua liberdade, de suas convicções, a partir de valores que são compartilhados. Promove neles uma liberdade responsável, pois tendo acompanhado o processo de maturidade, os pais sabem as convicções, os objetivos, os desejos e o projeto de vida dos filhos. Assim, não se trata de uma presença obsessiva ou punitiva, mas de uma sadia e constante vigilância.
Assim, a partir do seio familiar, são maturados hábitos. Criam-se convicções. Assume-se responsavelmente a vida. Forma-se a consciência moral, que “é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem onde ele está sozinho com Deus e onde ouve a sua voz” que chama “sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal” (Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, n. 16). O que se quer é um princípio interior estável que se inclina para a verdade e o bem. Este cultivo se dá através de propostas, motivações, exemplos, reflexões e exortações. Para nós, cristãos, a Palavra de Deus tem um lugar especial neste processo de educação moral. Ela precisa ser estudada, acolhida, interiorizada e rezada. “Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda boa obra.” (2Tm 3,17). Enfim, a família não pode se omitir de seu papel insubstituível na educação e formação ética de seus membros.