No último dia 20 de novembro o Papa Francisco fechou a Porta Santa na Basílica Vaticana, encerrando assim, o Ano Jubilar da Misericórdia. Porém, na homilia da missa de conclusão, disse: “Com efeito, embora se feche a Porta Santa, continua sempre escancarada para nós a verdadeira porta da misericórdia que é o Coração de Cristo”. Para animar toda a Igreja neste “tempo da misericórdia”, como “o caminho que somos convidados a percorrer no futuro”, o Santo Padre publicou a Carta Apostólica Misericordia et misera, apresentada à Igreja no dia 21 de novembro. Deseja que tudo o que foi vivido no Ano Jubilar, que é motivo de render graças a Deus, deve ser continuado, até criar “uma cultura da misericórdia” (n. 20). E justifica: “Com efeito, a misericórdia não se pode reduzir a um parêntese na vida da Igreja, mas constitui a sua própria existência, que torna visível e palpável a verdade profunda do Evangelho. Tudo se revela na misericórdia; tudo se compendia no amor misericordioso do Pai” (n.1). O título, “Misericórdia e mísera”, é inspirado num comentário de Santo Agostinho à passagem do evangelho do encontro de Jesus com a mulher adúltera (cf. Jo8, 1-11), em que Agostinho diz: “Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia”. E Jesus lhe diz: “Também eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar” (Jo 8,11).
O Papa retoma os principais pontos desenvolvidos no Ano Jubilar e indica como se pode continuar a experimentar a riqueza da misericórdia divina. Destaca como Jesus a manifestou em toda a sua vida e que “permanece sempre um ato de gratuidade do Pai celeste, um amor incondicional e não merecido” (n. 2). Caracteriza-se por este amor que transforma a vida e, por isso, “suscita alegria, porque o coração se abre à esperança duma vida nova. A alegria do perdão é indescritível, mas transparece em nós sempre que a experimentamos” (n.3). Um lugar privilegiado são as celebrações, sobretudo a Eucaristia e a Reconciliação. “Este é o momento em que sentimos o abraço do Pai, que vem ao nosso encontro para nos restituir a graça de voltarmos a ser seus filhos” (n. 8). Este sacramento, afirma, “precisa voltar a ter o seu lugar central na vida cristã” (n.11). Como sinal concreto deste desejo, concedeu “a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do seu ministério, a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto” (n.12), pois embora seja “um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente, mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai” (n.12).A misericórdia nos faz “criaturas novas” (Gl 6,15), “sou amado, logo existo; estou perdoado, por conseguinte renasço para uma vida nova; fui ‘misericordiado’ e, consequentemente, feito instrumento da misericórdia” (n.16).
Conclamou a vivermos “o caráter social da misericórdia” (n.19). “Somos chamados a fazer crescer uma cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos” (n.20). E diz que “não podemos esquecer-nos dos pobres: trata-se de um convite hoje mais atual do que nunca, que se impõe pela sua evidência evangélica” (n.20). Neste sentido, como sinal concreto do Ano Jubilar, instituiu o Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado todos os anos no 33º Domingo do Tempo Comum. Enfim, “este é o tempo da misericórdia” (n.21).